O programa "Em Poucas Palavras" aborda a questão de ter ou não filhos, motivado pela pergunta de uma ouvinte de São Paulo que questiona se seria pecado para um cristão optar por não ter filhos devido aos tempos difíceis.
Inicialmente, o pastor Augustus Nicodemus lembra que a ordem de Deus para o primeiro casal foi "crescei e multiplicai-vos, enchei a terra". Ele aponta que o casamento, estabelecido por Deus, tem como objetivos o conforto, a alegria e o apoio mútuo entre marido e mulher, bem como a continuidade da raça humana através da geração de filhos que cuidarão dos pais na velhice. Além disso, a geração de filhos é importante para a perpetuidade da igreja, pois muitos cristãos são filhos de pais cristãos e são educados na fé desde cedo.
A Bíblia considera os filhos como uma bênção de Deus e um privilégio. No Antigo Testamento, a esterilidade era vista como motivo de tristeza, e muitas mulheres importantes que eram estéreis foram curadas por Deus. Salmos também se referem aos filhos como bênçãos para aqueles que temem a Deus.
Apesar de a Bíblia também alertar para a possibilidade de filhos rebeldes que trazem tristeza aos pais, o padrão de Deus é visto como positivo em trazer filhos ao mundo, cuidar deles e ensiná-los na Palavra de Deus. O pastor observa uma tendência em alguns países de queda na taxa de natalidade, com casais optando por não ter filhos, o que pode levar à perda da cultura original. Em contraste, em culturas mais orientais, como a muçulmana, o número de filhos costuma ser maior, o que tem implicações demográficas e culturais.
Respondendo diretamente à pergunta da ouvinte sobre se é pecado não querer ter filhos, o pastor diz que não colocaria como pecado. No entanto, ele levanta a questão sobre o motivo de querer casar sem o desejo de constituir família. Ele argumenta que se todos pensassem em não ter filhos devido à crueldade do mundo, a raça humana acabaria. Embora reconheça que filhos dão trabalho e podem trazer sofrimento, ele expressa gratidão aos seus pais por terem escolhido tê-lo.
O pastor também menciona que, por trás da recusa em ter filhos, pode haver motivações como a priorização da carreira, do dinheiro e dos prazeres da vida, com a visão de que filhos atrapalham. Ele contrapõe que fazer essas coisas com os filhos pode ser muito mais gratificante. Além disso, ele aponta para a questão da solidão na velhice para aqueles que não têm filhos, citando reportagens sobre idosos solitários e tristes.
Embora não considere pecado não ter filhos, o pastor adverte que essa decisão leva a um "campo perigoso" e encoraja a ouvinte a examinar o motivo do seu casamento e seus objetivos, questionando se o casamento seria apenas para legalizar o relacionamento sexual e o prazer. Ele ilustra a diferença de mentalidade entre um casal sem filhos e um com filhos através da analogia de dividir um pudim, onde a chegada de um filho muda o foco do casal para a felicidade do filho.
O programa ressalta que a discussão não se aplica a casais que não podem ter filhos por questões fisiológicas. Em suma, embora não seja considerado pecado não ter filhos, a decisão deve ser cuidadosamente ponderada à luz dos propósitos de Deus para o casamento e a família, e as motivações por trás dessa escolha devem ser examinadas.1
De acordo com Victor Fontana, muita gente encara a ideia de multiplicação e de ter filhos como um mandamento moral de Deus, sendo pecado desobedecê-lo, ou seja, pecado não ter filhos ou não querer tê-los. No entanto, Fontana desafia essa interpretação.
Fontana argumenta que a ordem de Deus em Gênesis 1:28 para ser fértil e multiplicar-se é uma bênção e não um mandamento moral. Ele compara essa ordem com a mesma dada aos peixes em Gênesis 1:22, questionando se Deus estaria dando um mandamento moral a seres com cérebros pequenos como os peixes. A bênção de ser fértil, segundo Fontana, está ligada à ideia de Deus preencher a terra com vida, o que é uma coisa boa.
Ele ressalta que, se a reprodução fosse o único mandamento moral que a humanidade cumprisse bem, sabendo que a humanidade falha em obedecer outras leis divinas, isso reforça a ideia de que não é um mandamento moral, mas sim uma bênção que aconteceu.
Além disso, ele menciona que no Novo Testamento, a ênfase dos grandes missionários não era ter muitos filhos biológicos, mas sim ter muitos filhos na fé. Portanto, usar a passagem "sejam férteis como os peixes" para dizer que é pecado não ter filhos ou não querer tê-los é considerado uma interpretação perigosa para a igreja.
Embora Fontana reconheça que não querer ter filhos por egoísmo pode ser pecado, ele questiona quem estabeleceu que é necessário ter filhos para não ser egoísta. Fontana também critica o julgamento de casais que não têm filhos como incompetentes ou a ideia de que falta prosperidade em tais famílias.
Em resumo, Fontana argumenta que não há base bíblica plausível para considerar pecado um casal cristão não querer ter filhos. A fertilidade em Gênesis é apresentada como uma bênção para povoar a terra e garantir a sobrevivência em um contexto antigo, e não como um mandamento moral universal. Ele também adverte contra a invenção de pecados e lembra que fofocar sobre casais sem filhos é, na verdade, um pecado explícito na Bíblia.2
Perguntas e Respostas
1. Qual é a perspectiva bíblica fundamental sobre ter filhos e a formação de família?
A Bíblia estabelece desde o início, com a ordem dada a Adão e Eva ("crescei e multiplicai-vos"), a procriação como um dos propósitos divinos para o casamento e a família. Além da continuidade da raça humana, ter filhos é visto como uma bênção de Deus, um privilégio que permite perpetuar a fé através da educação dos filhos nos caminhos do Senhor e contribuir para o crescimento da igreja. O casamento, por sua vez, é instituído para o conforto mútuo, alegria e apoio entre o casal, e também para a geração de filhos que darão continuidade à linhagem e, em um sentido mais amplo, ao povo de Deus. Não é um mandamento moral que, se não cumprido, constitui pecado.
2. Se não é um mandamento, por que o desejo de ter filhos é tão proeminente no Antigo Testamento?
No contexto do Antigo Oriente Próximo, a fertilidade era crucial para a sobrevivência. Em uma sociedade agropastoril, muitos filhos significavam mais mão de obra para o trabalho no campo e para o pastoreio, garantindo a subsistência da família e do clã. Além disso, em um ambiente de frequentes conflitos e guerras entre povos e tribos, uma grande prole masculina era essencial para formar um contingente militar forte, aumentando as chances de sobrevivência e sucesso do grupo. Portanto, a fertilidade era vista como uma grande bênção, ligada diretamente à prosperidade e à segurança.
3. E quanto ao uso de métodos contraceptivos por casais cristãos?
A Bíblia não oferece uma proibição direta ao uso de métodos contraceptivos. Portanto, não se pode afirmar categoricamente que o uso de contraceptivos seja pecado com base nas Escrituras. A decisão sobre o uso de métodos contraceptivos é, em última análise, uma questão de consciência para o casal, que deve buscar sabedoria e discernimento em oração e no estudo da Bíblia, considerando seus motivos e responsabilidades.
4. A adoção é uma alternativa para cumprir o mandamento de "multiplicar"?
Como Gênesis 1:28 não é um mandamento moral no sentido de obrigação de reprodução biológica, a adoção não se enquadra como uma forma de "cumprir" esse suposto mandamento. No entanto, a adoção é apresentada na Bíblia como um ato de amor e cuidado, refletindo o próprio amor de Deus ao nos adotar como seus filhos através de Jesus Cristo. Pais adotivos exercem paternidade e maternidade de maneira significativa e amorosa, e sua decisão não deve ser motivada por um senso de obrigação de "multiplicar".
5. Como devemos interpretar e aplicar passagens bíblicas sobre filhos no contexto cultural moderno?
É crucial interpretar as passagens bíblicas dentro de seus contextos históricos, culturais e literários originais. O significado e a relevância da fertilidade no Antigo Oriente Próximo eram diferentes dos da sociedade moderna. Embora os filhos continuem sendo uma bênção, os motivos e as implicações de ter muitos filhos mudaram significativamente. A aplicação dessas passagens hoje deve levar em consideração o bem-estar da família, as condições socioeconômicas e a liberdade de consciência dos casais, sempre à luz dos princípios gerais do amor, da sabedoria e da responsabilidade encontrados na Bíblia.