Unção do Riso
A unção do riso é um fenômeno espiritual que surgiu em alguns círculos pentecostais e carismáticos, especialmente a partir dos avivamentos da década de 1990, como o movimento de Toronto Blessing. Nesse fenômeno, o riso espontâneo e aparentemente incontrolável é entendido por alguns como o sinal de uma experiência profunda com o Espírito Santo, que traz um sentimento de libertação, alegria e renovação interior. Essa manifestação, porém, precisa ser vista à luz de uma teologia que ressalta tanto o poder transformador do Espírito como a necessidade de discernimento e equilíbrio com a doutrina bíblica.
Do ponto de vista teológico, embora a Escritura não descreva explicitamente um fenômeno denominado “unção do riso”, os neopentecostais entendem que as manifestações do Espírito podem se manifestar de formas surpreendentes e diversas. Assim como os dons espirituais – como falar em línguas ou o dom profético – a experiência do riso é percebida como uma expressão corporal que reflete a alegria e o alívio que a presença divina pode trazer. Em outras palavras, o riso intenso pode ser interpretado como o fruto da libertação das amarras do medo, da culpa ou da opressão espiritual, atuando como um sinal de cura emocional e espiritual para o indivíduo e para a comunidade.
Minha visão é que creio que o Espírito Santo pode te dar alívio a ponto de te fazer sorrir, mas muitas das vezes o que vejo é as pessoas voluntariamente caindo no chão e afirmando que isso é o Espírito Santo, não creio assim, quando o Espírito Santo quer fazer alguém cair ele faz, mas não é sempre, pode observar nas escrituras que nem todo mundo caia, e quando caia não era sempre.
Sorrir no culto é pecado? Não, sorrir ou mesmo rir durante o culto não é, por si só, pecado. Do ponto de vista teológico, a alegria é um dom que Deus concede aos Seus filhos, e as Escrituras reconhecem que a vida humana inclui momentos de júbilo. Em Eclesiastes 3:4, por exemplo, lemos que há "tempo de chorar e tempo de rir", mostrando que a expressão da alegria é parte da experiência humana ordenada por Deus.
Dentro dessa perspectiva, o conceito conhecido popularmente como “unção do riso” pode ser entendido como uma metáfora para aquela manifestação autêntica de alegria e liberdade que o Espírito Santo derrama sobre os crentes. Embora o termo exato não apareça nos textos bíblicos, ele reflete a ideia de que o poder do Espírito transforma o coração, produzindo frutos como a alegria, que fazem com que o riso sincero se torne uma expressão legítima da presença de Deus na vida do crente. Essa unção no sentido de capacitação espiritual—não pretende ser levada a um extremo desordeiro a ponto de fazer todos caírem descontroladamente, mas sim à medida em que a verdadeira adoração envolve tanto reverência quanto celebração. Nenhum líder pode forçar ninguém a cair no Espírito Santo para se dizer espiritual e que o culto pegou fogo porque todos caíram, não, o culto deve ser espiritual porque todos saíram cheios da palavra de Deus, cheios do Espírito Santo.
O contexto e a ordem do culto são importantes. Se o sorriso surge de um reconhecimento profundo da graça e do amor divino durante o culto, ele está em sintonia com o chamado para uma vivência plena do Evangelho. Por outro lado, se a manifestação da alegria se converte em desrespeito, zombaria ou se desvia do propósito de adorar a Deus sorrindo sem motivo nenhum, aí sim pode haver equívocos. Ou seja, não existe uma regra universal que proíba o riso em ambientes de louvor; o que se exige é a manutenção do decoro e da reverência à presença do Altíssimo. Como diz Paulo: “tudo deve ser feito com decência e ordem.” (1 Coríntios 14:40)
Em resumo, a expressão da alegria—incluindo o sorriso e o riso espontâneos—quando emanada de um coração transformado em comunhão com Deus, é vista como um sinal da graça e do poder do Espírito. A “unção do riso”, entendida como a manifestação do Espírito que liberta e enche de júbilo o crente, pode ser experimentada de forma equilibrada e respeitosa, enriquecendo o culto e a experiência coletiva de adoração, o que infelizmente não vemos isso em alguns movimentos.1
Declarar fé
Declarar fé é uma confissão positiva? Confissão positiva é falar profeticamente?
Declarar fé é o ato de testemunhar publicamente a crença em Jesus Cristo, reconhecendo Sua obra redentora, a ressurreição e a presença transformadora do Espírito Santo na vida do crente. Esse ato não é meramente uma repetição de palavras, mas a expressão sincera de uma realidade espiritual vivida. Para os pentecostais clássicos, confessar a fé é fundamental, pois demonstra não só a adesão pessoal à mensagem do evangelho, mas também a confiança na ação contínua de Deus – seja em momentos de bênção ou durante desafios – sempre em submissão à soberania divina.
Confissão Positiva versus Falar Profeticamente - O termo “confissão positiva”, por sua vez, tem sido adotado por alguns grupos, especialmente dentro dos movimentos que hoje popularmente associam essa prática à "teologia da prosperidade" ou ao movimento da palavra de fé. Nessa abordagem, há a ênfase em declarar verbalmente as promessas da Bíblia como se já tivessem sido cumpridas, partindo do pressuposto de que as palavras têm um poder criativo que pode “chamar” bênçãos específicas, como saúde, prosperidade e sucesso. Eu porém vos digo: Trabalha não pra ver se o Dinheiro vem. Você pode até falar, mas deve ter consciência que a fé sem obra é morta. (Tiago 2:17)
Contudo, para os pentecostais clássicos isso não equivale a simplesmente “falar profeticamente” num sentido de encantamento ou fórmula mágica. Enquanto a confissão positiva enfatiza a ideia de que “o que se diz, crê-se”, a verdadeira profecia – entendido como o dom profético do Espírito – é uma manifestação inspirada que edifica, exorta e consola a igreja. Ela exige comunhão profunda com Deus, discernimento espiritual e submissão à revelação bíblica, ao invés de ser um mero mecanismo para influenciar circunstâncias de forma automática.
A Dinâmica do Espírito Na teologia pentecostal, o poder das palavras não reside no ato humano em si, mas na ação do Espírito Santo que capacita o crente a declarar as promessas de Deus com autoridade. Assim, quando um crente declara fé, ele o faz como testemunho da transformação operada pelo Espírito e não como um ritual para forçar a manifestação de bênçãos. O falar profético, quando genuinamente inspirado, transcende a simples repetição positiva e se torna um canal através do qual Deus se comunica e consolida a fé dos irmãos.
Equilíbrio e Soberania: É importante ressaltar que, embora as palavras tenham influência—como é ensinado em passagens como Marcos 11:23‑24 e em outros textos que apontam para o valor do testemunho verbal, elas não são instrumentos autônomos para determinar a realidade. A tradição pentecostal clássica enfatiza que toda promessa divinamente declarada se cumpre segundo a vontade e o tempo soberano de Deus, e não por um "poder da palavra" desvinculado da ação do Espírito. Dessa forma, a prática da confissão positiva, se adotada, deve estar sempre equilibrada com uma vida de oração, arrependimento, comunhão profunda e uma submissão inabalável ao que Deus revela na Escritura.
Em resumo, declarar fé é, fundamentalmente, o testemunho espontâneo e sincero da experiência pessoal com Cristo e da obra do Espírito no crente. Já a “confissão positiva”, quando entendida como uma técnica de repetir promessas para atrair bênçãos, não se equipara automaticamente ao falar profeticamente – que, por sua vez, é uma manifestação do dom do Espírito destinada a edificar e orientar o corpo de Cristo. Para os pentecostais clássicos, o importante é que toda declaração esteja ancorada na Palavra de Deus e na submissão à Sua vontade, evitando transformá-la num mero instrumento de manipulação espiritual ou formulação mecânica.
Essa compreensão busca manter o equilíbrio entre a confiança ativa no poder transformador das promessas divinas e o reconhecimento de que a eficácia de nossa fé depende, antes de tudo, do agir soberano do Espírito Santo e da fidelidade de Deus às Suas revelações bíblicas2
Cair no Espírito
A expressão “cair no Espírito” é utilizada em alguns contextos do culto pentecostal e carismático para descrever um momento em que o crente, tomado por uma intensa emoção ou pela percepção do poder divino, experimenta uma queda física. Contudo, do ponto de vista teológico, é importante distinguir entre a reação humana natural diante do sublime e a ideia de que esse ato seja uma manifestação esperada ou mandatória do batismo ou da presença do Espírito Santo.
Em relatos bíblicos, encontramos momentos em que pessoas caem em adoração ou temor diante de visões e manifestações da glória de Deus. Por exemplo, em Apocalipse 1:17, João relata que, ao ver a visão do Cristo glorificado, caiu aos seus pés como morto. Nesses casos, a queda é fruto de um sentimento de reverência extrema e de um encontro inesperado com o transcendente, não havendo, nesses textos, uma prescrição de que o “cair” seja uma evidência ou um mecanismo padrão para experimentar o Espírito Santo.
Por outro lado, na prática em alguns cultos contemporâneos, o fenômeno do “cair no Espírito” é frequentemente encenado ou incentivado como um sinal da presença e do poder do Espírito. Essa manifestação, no entanto, tende a ter um caráter emocional e cultural que pode diferir significativamente das expressões descritas nas Escrituras. Ou seja, enquanto os episódios bíblicos de queda ocorrem de maneira espontânea e excepcional — resultado de uma visão ou de um momento de profunda adoração —, a prática moderna pode acabar se tornando uma resposta condicionada ao ambiente e à influência do líder ou da dinâmica do culto.
Teologicamente, o foco da ação do Espírito Santo não deve se apoiar unicamente em manifestações sensacionais, mas sim na transformação de vidas, na produção dos frutos espirituais (como descrito em Gálatas 5:22-23) e na edificação da comunidade de fé. Assim, mesmo que, em certas circunstâncias, a experiência de “cair no Espírito” possa ser observada e até considerada uma resposta legítima ao poder divino, ela não deve ser vista como um critério normativo ou indispensável para a presença do Espírito na vida do crente. Muitas tradições, especialmente no meio reformado, enfatizam que a evidência principal do batismo e da ação do Espírito é a mudança interna e o crescimento espiritual, e não necessariamente manifestações físicas passageiras.
Em síntese, embora a queda diante do Espírito possa ter respaldo em episódios bíblicos — quando compreendida como uma reação intensa à manifestação do divino — a prática frequente de fazê-lo nos cultos modernos não possui uma fundamentação teológica clara e sistemática nas Escrituras. O crente é, portanto, chamado a buscar uma experiência genuína do Espírito Santo que se manifeste, sobretudo, na transformação do caráter e na produção do fruto espiritual, independentemente de fenômenos físicos que, embora emocionais, não constituem o padrão bíblico para o se manifestar do poder de Deus.3
RODRIGUES, Eliezer. Unção da alegria e o riso da fé. Verbo da Vida, 2025. Disponível em: <https://verbodavida.org.br/blog/eliezer-rodrigues/uncao-da-alegria-e-o-riso-da-fe>. Acesso em: 10 jun. 2025.
FERRAZ, Salma; SCHMITZ, Erik Dorff; LIVRAMENTO, Igor. O vento sopra onde quer: unção do riso. Mosaico: Revista de Pesquisa em Artes. Disponível em: <https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/download/6377/3646>. Acesso em: 10 jun. 2025.
FERNANDES, Ivaldo. Entendendo as manifestações espirituais: cair no espírito, unção do riso e outros moveres. Disponível em: https://ivaldofs.com.br/entendendo-as-manifestacoes-espirituais-cair-no-espirito-uncao-do-riso-e-outros-moveres/. Acesso em: 10 jun. 2025.
IGREJA REFORMADA. Confissão Positiva. Disponível em: https://igrejareformada.com.br/confissao-positiva/. Acesso em: 10 jun. 2025.
RESPOSTAS BÍBLICAS. O que é a Confissão Positiva? É bíblica?. Disponível em: https://www.respostas.com.br/o-que-e-confissao-positiva/. Acesso em: 10 jun. 2025.
Bibliatodo. Cair no Espírito é bíblico? - Reflexões Bíblicas. Disponível em: [https://www.bibliatodo.com/Pt/reflexoes-biblicas/cair-no-espirito-e-biblico/. Acesso em: 10 jun. 2025.
Jesus nos Ensina. Cair no Espírito é Bíblico? O que significa quando alguém cai na Igreja? Disponível em: [https://jesusnosensina.com/cair-no-espirito/](https://jesusnosensina.com/cair-no-espirito/https://jesusnosensina.com/cair-no-espirito/. Acesso em: 10 jun. 2025.
Estudos Gospel. Estudo Bíblico: O Que a Bíblia Diz Sobre o Cair no Espírito. Disponível em: [https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-polemico-dificil/o-que-a-biblia-diz-sobre-o-cair-no-espirito.html. Acesso em: 10 jun. 2025.